
José Padilha an Wagner Moura on the Narcos set, Medellin, Colombia,
Daniel Daza/Netflix
José Padilha an Wagner Moura on the Narcos set, Medellin, Colombia,
Daniel Daza/Netflix
With Netflix’s Narcos shooting its second season in Colombia, series producer/diretor José Padilha looks back on season 1 and evaluates the role of the new streaming and TV platforms for filmmakers and audiences alike. Com uma longa carreira no cinema brasileiro, dos documentários Ônibus 174 e Garapa ao mega-sucesso dos dois Tropa de Elite, José Padilha vem fazendo uma sólida carreira internacional, primeiro com o longa RoboCop, em 2014 e, este ano, com a série Narcos, da Netflix, um “olhar diferente” (palavras de Padilha) sobre a evolução do narcotráfico na América Latina, estrelada pelo assíduo colaborador de Padilha, Wagner Moura, no papel do mega traficante Pablo Escobar. A série, que começou como um pitch do produtor Eric Newman durante as filmagens de RoboCop, está neste momento filmando sua segunda temporada na Colômbia. Nesta conversa exclusiva, Padilha faz o balanço de sua experiência com a primeira temporada e reflete sobre o impacto dos novos canais de distribuição. Qual foi sua reação quando Eric Newman propôs a ideia central do que viria a ser Narcos? _Eu me interessei imediatamente. Mas na hora eu sabia que não queria contar mais uma versão da caçada a Pablo Escobar. Eu sabia que não queria contar a história de como um cartel foi desmantelado. Não queria fazer mais uma história da “guerra às drogas”. Eu queria contar toda a história, desde o começo, desde lá de trás, com todos os detalhes, todas as implicações. É uma coisa que me interessa muito, me interessa pessoalmente. Por que? _Porque todos nós sofremos, não é? Toda a América Latina sofreu e sofre, o Brasil sofre com problemas ligados às drogas… A tal da “guerra às drogas” quer resolver a questão atacando a oferta sem nem pensar no que realmente impulsiona o tráfico – a demanda. Para realmente enfrentar a questão das drogas o que tem de ser encarado é a demanda, e a demanda não é um problema de polícia, é um problema social, psicológico, médico. O que é muito mais complicado… Quando Reagan anuncia a “guerra às drogas” ele coloca o ônus do problema da demanda em cima dos usuários, como se dependesse exclusivamente deles “dizer não” a algo que é muito mais complexo. Eu sublinhei isso naquela hora em que Nancy Reagan diz “just say no” e a cortamos para o Gacha (o personagem de Luiz Guzmán) sendo baleado e gritando “no, no, no”! É sua primeira incursão na TV – o que achou da experiência? _ Gostei muito. É um processo diferente, no qual você tem que delegar muitas coisas, e tem de estar preparado para um longo processo de criação e execução. Mas acho que consegui por minha marca , minha estética, no resultado final. Claro que tive que brigar um pouco – insistindo em filmar em locação na Colômbia, por exemplo. E não em estúdios na Colômbia, como a Netflix tinha sugerido. Mas em locação mesmo – para mim era o único modo de ser coerente com a proposta da série. Como realizador, como você avalia o trabalho com uma plataforma como a Netflix, comparado com suas outras experiências? _Eu tive três experiências muito diferentes no meu trabalho: meus filmes no Brasil, o Robocop num grande estúdio e agora Narcos com a Netflix. Meus filmes no Brasil eu tive 100% controle artístico de tudo. No filme de estúdio, o RoboCop, eu passava mais de metade do meu tempo brigando pelas minhas ideias. Um orçamento imenso. E eu tinha que lidar com dois estúdios, Sony (que distribuiu o filme) e MGM (que detinha os direitos do personagem) com várias preocupações relativas ao marketing, aquela coisa tradicional de Hollywood, que é como tem que ser, porque os caras estão investindo muito dinheiro e tem toda razão de estarem preocupados e quererem dar a opinião deles. E agora, o Netflix. Onde eu tive enorme liberdade criativa de novo. O modelo do Netflix é diferente do cinema comercial e da TV aberta – eles não precisam se preocupar com a renda que vai ou não vir depois do projeto ser exibido. Eles tem esses recursos independente disso, porque seu modelo é de assinaturas, são os assinantes, os especatdores, que custeiam os projetos. É o modelo da HBO também, que comprovadamente já deu ótimos resultados. Plataformas como a Netflix estão se tornando o novo cinema independente? _Sim, acredito nisso. Eu tive completa liberdade – para escolher meu elenco, minha equipe, ter o Lula (Carvalho) na fotografia, a trilha do Pedro Bromfman, os diretores dos episódios depois dos dois primeiros (entre eles está o brasileiro Fernando Coimbra, de O Lobo Atrás da Porta), o Wagner como Escobar… Pude preservar minha visão da série, o visual, as cores, a locação na Colombia, o tom da narrativa. O modelo de produção que vem de uma base de espectadores realmente funciona para quem faz e para quem vê. Interessante porque outro dia eu estava lendo um artigo do Arnaldo Jabor em que ele lamentava o fim do cinema de autor no Brasil. É o oposto do que está acontecendo fora do Brasil com Netflix e coisas assim – justamente na hora em que os grandes estúdios estão investindo apenas em grandes projetos comerciais, franquias , é o renascimento do cinema de autor.
Ana Maria Bahiana